Ser médico foi algo que escolhi muito cedo. Era mais que um sonho; era um objetivo que tracei ainda na infância e muitos foram os anos de trabalho para tentar concretizá-lo. Uma sensação inexplicável tomou conta de mim quando consegui ser aprovado no vestibular.
No entanto, não precisei de muito tempo para perceber a discrepância que havia entre o curso dos meus sonhos e a realidade, mesmo estudando no curso de maior referência do Estado. Os problemas relacionados à infraestrutura, carência de material didático de qualidade, deficiência de muitos conteúdos de extrema relevância para a atividade médica e, em minha opinião, o pior de todos os problemas: a baixa qualidade de boa parte dos professores. Desatualização, pouca didática, desinteresse pelo aprendizado e formação dos alunos eram características de alguns professores, que aparentavam estar ali somente graças ao farto números de títulos presentes em seus currículos.
Visando o futuro como médico
Era óbvio que se estudantes quisessem se tornar verdadeiros médicos, precisariam ir muito além dos portões da Universidade. De forma bem precoce – ainda no período básico do curso – comecei a frequentar os hospitais por conta própria, fazer cursos extras, projetos científicos, acompanhar outros médicos e muito mais, visando tornar-me o médico que eu pretendia ser. Um determinado dia, assisti a uma palestra do Dr. Daniel França sobre exame neurológico. Fiquei impressionado com nível de conhecimento, a objetividade, a didática, a qualidade do material utilizado, a facilidade na transmissão do conteúdo e a paixão que ele demonstrava pelo que estava fazendo. Foi impactante, principalmente ao comparar com as aulas relacionadas a neurologia e a neuroanatomia que já havia assistido. Mesmo sendo tão jovem, já era neurocirurgião (o mais jovem do país), chefe do maior setor de neurocirurgia do Estado e professor universitário. Era exatamente o modelo que buscava e o tipo de médico que queria ser.
Buscando referências e inspirações
Muito timidamente pedi permissão para acompanha-lo em seus plantões e foi uma surpresa o sim tão espontâneo, direto e imediato que recebi. Comecei a acompanha-lo semanalmente em seus plantões noturnos às segundas-feiras. Foram dias que fizeram toda a diferença na minha carreira. Tudo que aprendi ali faz parte do meu dia a dia: AVC (principal causa de morte no planeta), TCE, convulsões, cefaleias, coma etc, são os problemas que mais encontramos em Pronto Atendimentos, UTI’s e Ambulatórios. E, acreditem, você aprende muito pouco disso em sala de aula durante o curso. Os conhecimentos de neuroclínica necessários a um médico generalista são abordados nas Universidades de forma muito aquém da sua real relevância prática.
Essa convivência com o Dr. Daniel me fez entender que sempre precisaria ir muito além do que o Sistema me proporcionava. Participar de congressos, inclusive internacionais, fazer pesquisas e apresentá-las, comprar materiais, livros, enfim, aprendi que era necessário investir em mim e no meu aprendizado. E essa é uma necessidade constante.
Hoje já consigo colher muitos frutos desse esforço. Se há algo que poderia recomendar a todos os que ingressaram na medicina e desejam ser bons médicos é: vá além dos portões da Faculdade. Invista em você e no seu conhecimento. Encontre um bom médico numa área que tenha afinidade e o acompanhe. Frequente os hospitais, principalmente os públicos. Invista em livros, cursos, palestras, congressos, enfim, em você mesmo. São suas ações no presente que definirão seus resultados no futuro.