Neuro: O Que é Imprescindível Saber?

Muitos dos textos anteriores objetivaram abrir os olhos dos leitores para as deficiências em suas formações, em geral; e a importância de saber Neuro, em particular. Não resta dúvida de que esse conhecimento será fator diferenciador para aqueles que o detiverem, o que terá efeito imediato em testes, aprovações e sobre a qualidade da prática médica de cada um.

Agora, tentando escrever sobre o que o profissional não-especialista Deve Saber, prefiro me limitar a enumerar tópicos que você não pode ignorar.

Semiologia Neurológica: Não Há Construção Sem Alicerces

Ninguém avança na Neuro sem conhecer alguns dos seus conceitos semiológicos básicos.

É preciso saber reconhecer, nomear e interpretar prontamente um déficit motor ou sensitivo, como também localizar a lesão que o originou. É inadmissível que ainda se leiam: “fraqueza do lado direito do corpo” ou “movimentos mais presentes à esquerda” em prontuários; muito menos que isso seja verbalizado numa prova prática ou numa corrida de leitos.

As alterações da motricidade facial ainda geram confusão e muitos não conseguem sequer identificar a lateralidade do problema! Afinal: a comissura labial desvia para o lado afetado ou para o lado preservado?

Defendo a ideia que o mais importante, mais eloquente e mais essencial sinal de anormalidade neurológica é a Anisocoria. Muitas vidas ainda são salvas a partir do seu reconhecimento e da sua correta interpretação. Não pesquisar ou não reconhecer são erros inaceitáveis porque, muitas vezes, fatais.

Uma das habilidades que colocam a espécie humana no topo da evolução neurológica é a Linguagem. É, portanto evidente que estudantes e profissionais da saúde saibam identificar e diferenciar as Afasias e compreendam como elas interferem em todo o resto do exame físico e na própria anamnese de um paciente. Exceção feita apenas aos veterinários…

Coma: Eloquência ou Surdo-Mudez?

Não há plantonista, especialista ou generalista que não se depare com um paciente com rebaixamento do nível de consciência. Essa constitui uma das mais fascinantes áreas da Neurologia porque conhecimentos básicos sobre Coma permitem ao examinador perceber eloquência num corpo que – para os despreparados – é mudo.

Novamente, o exame das pupilas, dos movimentos e desvios oculares e a correta aplicação da Escala de Coma de Glasgow, a interpretação de seu escore e das suas limitações não podem ser negligenciados por quem lida em qualquer área da medicina, até porque descompensações não-neurológicas frequentemente embotam a consciência, desesperando acadêmicos e profissionais incautos.

Doenças Cérebro-Vasculares: O Desconhecimento é Iatrogênico

Muitas estatísticas atuais já colocam os AVE’s como principal causa de morte no mundo inteiro. Tão importante quanto essa afirmativa é o fato de que sua incidência tem aumentado ao longo do tempo, deixando número cada vez maior de vítimas definitivas (óbitos ou sequelas permanentes).

Por outro lado, muitos avanços na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento agudo ocorreram nos últimos anos. Negligenciá-los é Iatrogenia!

Um profissional não familiarizado com as síndromes cérebro-vasculares não examina, não suspeita, não age e, perdendo tempo, condena milhares de neurônios à morte e o paciente a carregar sequelas vitalícias, muitas vezes, incapacitantes.

Traumatismo Crânio-Encefálico: A Onipresença Exige Onisciência

Os traumatismos são a principal causa de morte em pacientes jovens em qualquer região do mundo. Dentro deste grande espectro de doenças, as lesões traumáticas ao Sistema Nervoso são os maiores determinantes de mortalidade e morbidade definitiva.

É comum (e louvável) vermos acadêmicos e residentes estudando radiologia do tórax, ultrassom do abdome, interpretando ECGs, solicitando dosagens das enzimas do infarto, mas é inexplicável – e pior: é inaceitável – que não saibam diagnosticar um Hematoma Extradural, diferenciá-lo de um Subdural, perceber Desvios da Linha Média e identificar uma urgências neurocirúrgica.

Nas Emergências, a eficiência da triagem e as condutas iniciais fazem inequívoca diferença no resultado final e o principal determinante dessa diferença se chama Preparo!

Finalmente, a compreensão dos processos microestruturais de lesão cerebral é a chave para o estabelecimento de prognósticos e o tratamento dos sequelados e para as proposições de reabilitação.

Dores de Cabeça: Compreendê-las para Não Tê-las

As cefaleias compõem a queixa mais frequente da prática médica, onde quer que estejamos. São em maioria primárias e benignas e, mesmo assim, são causa de ansiedade, perdas econômicas e são combustíveis de um ciclo vicioso em que dor e stress se alimentam mutuamente.

As síndromes dolorosas são, em maioria, facilmente identificáveis: uma anamnese simples seguida de um exame neurológico sucinto muitas vezes diferenciam uma cefaleia primária de uma dor secundária – e, pois, mais preocupante – e sempre (repito: sempre!) diferenciam um profissional bem preparado daquele optou pela mediocridade, negligenciando as estatísticas do seu próprio mercado de trabalho.

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