Faculdade de saúde: caia na (vida) real

Apesar de as instituições aparentemente terem o mesmo interesse, o objetivo de colégios e faculdades pode ser bem diferente.

Realidade no Colégio

Tendo feito toda a minha formação básica em escolas privadas de excelência, cursar Medicina numa faculdade pública me trouxe alguns choques de realidade, que – felizmente – consegui transformar em aprendizado que jamais constará nos livros.

As instituições de ensino médio e a ampla maioria dos seus professores compartilham o objetivo de fazer os alunos avançarem, não apenas obterem a graduação. É meritório ter seus pupilos entre os aprovados em vestibulares concorridos de universidades renomadas: isso é a matéria-prima do marketing dessas empresas e de seus docentes. Professores têm compromisso com o resultado dos alunos, porque a partir deles – e somente deles – é que definem o valor de seu trabalho. As vitórias dos egressos de ontem precificam o ensino dos estudantes de hoje e o trabalho de quem lhes prepara.

No ensino superior brasileiro – especialmente nas universidades públicas –, muita coisa muda:

Realidade na Faculdade

É professor quem passa no concurso, não necessariamente quem ensina melhor.

A própria avaliação da didática de um docente universitário é feita por uma banca de… professores! Alunos não participam e assim a universidade não escuta o principal interessado na qualidade de um professor. O apego às formalidades acadêmicas (parâmetro dessas avaliações) pode assegurar a vaga de docente, mas não é garantia de bem ensinar. Limitar-se às aulas é restringir-se ao que o professor acha conveniente, não necessariamente ao que é, de fato, necessário. Pode significar perda de informações importantes e, o que é pior: de Tempo.

A valorização do professor universitário é dada pelo seu currículo, não pelo resultado de seus alunos.

Excelentes professores recebem o mesmo (e muitas vezes menos!) que outros mais titulados e, nem por isso, mais capazes de despertar interesse ou transmitir algum conhecimento. Não raro, estes enfatizam alguns assuntos super-especializados e negligenciam conhecimentos fundamentais, necessários no cotidiano do profissional. O acadêmico, se quiser, que selecione as informações e os meios mais adequados de adquiri-las. Vi e vivi isso enquanto professor universitário e ainda escuto quando palestro para estudantes, que sempre reiteram a importância da seleção e sistematização do conteúdo.

Muitos desses professores sucumbem ao próprio Ego e vêem nos alunos futuros concorrentes.

Por isso, muitas vezes – inconsciente ou deliberadamente – sabotam ao invés de formá-los. Sempre há os que complicam o que deveriam simplificar e apontam atalhos para o fracasso, como se pudessem escolher quem terá sucesso. Eu mesmo tive uma professora – à época Chefe da Clínica Médica – que, dias antes de começarem as provas de residência, disse-me: “assistirei de camarote você não passar nas provas de residência!”. Respondi-lhe que enviaria cartões postais das cidades em que passasse e assim foi feito. Em abril de 2003, já R1 de Neurocirurgia, li um brilhante artigo do Stephen Kanitz publicado na Veja (http://blog.kanitz.com.br/terra-cego/), fiz algumas fotocópias com grifos pertinentes, e enviei à ilustríssima professora, que, àquela altura, já era Coordenadora do Curso de Medicina, mesmo sem sequer ter passado em concurso, nem usado outro recurso audio-visual que não a xerox de livros em transparências (você sabe o que é transparência?).

Caia na Real: Não Perca Tempo e Assuma o Protagonismo!

Então, a qualidade do profissional que você será é responsabilidade inteiramente SUA! Insisto: não se limite ao que é ministrado na universidade. A faculdade, quando muito, iguala; nunca diferencia. O que diferencia, mais que a quantidade de páginas que você leu ou de aulas que assistiu, é a quantidade desse esforço que resultou em conhecimento, habilidades e capacidade de decisão.

Procure fontes confiáveis, com conteúdo bem selecionado e bem sistematizado e que usam a tecnologia para otimizar a experiência com assuntos aparentemente indigestos. Faça isso agora!

Ou tomamos a decisão e trilhamos nosso caminho, ou nosso caminho é trilhado e, pra chegarmos num ponto diferente, precisamos necessariamente retroceder.

Não escolhemos os momentos decisivos: eles é que nos escolhem. Ou estamos preparados ou Não.

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