Embora se diga que a medicina é a “ciência das verdades temporárias”, há uma verdade universal e imutável que sempre povoou os cérebros voltados para as ciências da saúde: o querer se diferenciar. Essa “vontade” tem-se tornado uma “necessidade” ou uma imposição do mercado ao qual todos estamos sujeitos. É matemática cristalina: quanto mais somos, maior a necessidade de sermos diferentes, de enxergarmos além do óbvio e resolvermos o incomum.
O que torna essa tarefa especialmente difícil é o fato de a Prática se distanciar da Teoria, na medida em que é sujeita a condições materiais, epidemiológicas, psicológicas e especialmente dependente de habilidades pessoais, que extrapolam os limites do que se pode objetivamente ensinar.
A Faculdade Apenas Iguala
Quem foi acadêmico e professor do curso de medicina percebe facilmente que mesmo a melhor faculdade apenas aponta o Norte para as turmas, mas o caminho é trilhado individualmente por cada aluno. Não há como transmitir tanto conteúdo numa carga horária limitada, para indivíduos que têm aptidões e interesses diferentes, além de outras disciplinas concomitantes a absorver.
A faculdade ideal é aquela que transmite aos alunos o mínimo que devem saber para a profissão, mas jamais poderá ter a pretensão de formar grandes clínicos gerais, muito menos especialistas nesta ou naquela área. E isso não é falha: é da natureza do ensino universitário.
É exatamente como cada um usa o tempo em que não está na faculdade que democratiza o resultado final: há inúmeros profissionais excelentes formados em escolas não tão boas e mais ainda medíocres formados em escolas renomadas.
Eis a principal razão da ansiedade dos estudantes: a Academia não diferencia; quando muito, iguala. E a principal pergunta que todos nos fazemos em determinada altura do curso é: como nos diferenciar?
Pule a Cerca!
Partindo do princípio que a sua desenvoltura prática tem peso cada vez maior nas seleções a que obrigatoriamente se submeterá, é fundamental que você extrapole as aulas-práticas e crie oportunidades de acompanhar a rotina de quem pratica medicina diariamente. Essa é uma das atitudes individuais a que outrora me referi.
Procure alguns dos professores que têm claro prazer em ensinar e ilustram as aulas com exemplos cotidianos; geralmente são esses que nos ajudam a enxergar o que precisamos ver. Mostre-se interessado na experiência dele e cave a oportunidade de acompanhá-lo em alguns momentos de sua prática.
Informe-se sobre profissionais que se destacam na vida real dos hospitais, pronto-atendimentos, UTIs e Centros Cirúrgicos. Frequentemente não são professores universitários e – algumas vezes por isso – têm considerável experiência no trato com os pacientes, por se dedicarem exclusivamente a isso. Cole neles: geralmente são receptivos a quem quer aprender e ajudar, além de não temerem fazer você, de fato, aprender.
Use a Tecnologia a Seu Favor
Estude também por fontes atuais, alternativas aos livros-textos clássicos, que privilegiem o “como fazer” e o “como interpretar”. Use a tecnologia a seu favor: não faz sentido estar no século XXI e estudar como se estivesse no século XIX. Um bom material coloca você muito próximo da experiência de participar do exame físico de um paciente, da interpretação de seus exames e de testemunhar uma eventual intervenção.
Privilegie conteúdo bem selecionado e bem sistematizado. A boa seleção evita o desperdício de tempo. A boa sistematização otimiza seu esforço, na medida em que oferece – cada uma a seu tempo – as informações necessárias para a construção sólida de determinado conhecimento.
Invista em Currículo
Atividades extra-curriculares têm cada vez mais importância em qualquer seleção a que você se submeta. Invista o tempo livre na expansão do seu currículo. E faça isso já, não deixe para o fim! Primeiro porque isso demanda tempo; segundo porque certamente há alguém investindo em seu próprio currículo enquanto você está pensando no que fazer com o seu.
Estude Inglês e em inglês.
Procure cursos com acreditação e certificação de relevância nacional e internacional.
Participe de eventos, faça pesquisas, publique artigos, mas não se restrinja ao academicismo.
Frequente hospitais e seus diversos setores: veja como se faz e como não se deve fazer. A tendência é de serem escolhidas as pessoas que já tiveram alguma experiência prática em determinada área. Ao se dedicar à prática, devore a teoria com muito mais apetite.
Conheça-se
Aproveite esse tempo fora dos muros da faculdade para perceber suas aptidões, seus interesses e suas restrições. Ninguém é obrigado a gostar igualmente de todas as disciplinas, mas os vencedores sempre se dedicam ao máximo quando diante do que realmente lhes interessa. E isso os diferencia.