Como foi entrar na Residência de Neurocirurgia

Por que falar sobre isso agora?

Porque é a maior preocupação dos formandos

Apesar de isso ter se passado há cerca de 15 anos (dezembro de 2002 e janeiro de 2003), eu resolvi compartilhar com os leitores minha experiência nos concursos para a residência em Neurocirurgia.

Exatamente porque à minha época, não tive ninguém que pudesse (ou quisesse) me contar a experiência que foi estudar para a prova (e tudo o que isso envolve – da seleção dos assuntos às técnicas de estudo), selecionar as instituições, organizar viagens e currículos, até enfrentar as provas e entrevistas, e ainda cumprir carga horária da Universidade.

Porque Isso não está nos livros

Nem nos livros, nem nos periódicos e nem faz parte do cotidiano das faculdades de medicina.

Muitos dos que ouvi haviam passado por isso há muito tempo, quando os residentes eram escolhidos por outros processos; outros faziam parecer que a seleção foi algo banal, muitíssimo simples, como se tivessem a certeza prévia da aprovação.

Comigo, foi exatamente o oposto. Foi o momento mais desafiador de toda a minha vida profissional. E, quanto menos orientação, tanto mais difícil fica o processo.

Porque em Medicina, o Caminho sempre será se Diferenciar

Antes de mais nada, entenda que a seleção para a residência vai muito além da pontuação nas provas.

Façamos, inicialmente, um raciocínio aritmético: quem compõe a população de concorrentes? Os formandos daquele ano mais os formados anteriormente que ainda não conseguiram entrar. Se o número de acadêmicos formados anualmente só cresce, a conclusão óbvia é que, a cada ano, a concorrência inexoravelmente aumenta.

Também é elementar que os tempos disponíveis para a preparação também são diferentes entre quem já se formou e quem está concluindo, por isso insisto tanto na premissa de conteúdo relevante transmitido de forma eficiente, rápida e consistente, o que só se consegue com Seleção, Sistematização e Didática.

No outro lado desta equação está a pontuação dos que serão selecionados para a fase seguinte: escores sempre muito próximos.

Primeira conclusão: a Pontuação nas questões apenas o seleciona para a fase seguinte, mas não dá a mínima garantia de aprovação, pois todos esses selecionados farão escores elevados.

Como se Diferenciar?

Não deixando para os últimos períodos

Chegando à segunda etapa, entram os diferenciais pessoais e curriculares, que se criam ao longo dos 6 anos da graduação: não deixe nada disso pro fim!

No meu caso, fomos 3 para a segunda fase, concorrendo por uma única vaga: eu e outro com 83 pontos e mais um – graduado na UFMG – com 84… As primeiras perguntas foram sobre meu interesse por Neurocirurgia e sobre a participação em algum serviço.

Honrosamente, eu tive a oportunidade de estagiar com muita gente boa, inclusive quem até hoje considero o maior Neurocirurgião de minha terra: Prof. Reynaldo Mendes de Carvalho Jr, um obcecado por pioneirismo e perfeição.

Foram praticamente os seis anos do curso (1997-2002) acompanhando pacientes, participando das cirurgias e produzindo trabalhos e artigos. Tudo isso, devidamente registrado no currículo: cerca de 25 trabalhos entre publicações e apresentações em congressos, certificados de estágio, cartas de recomendação, cursos extra-curriculares (Neuroanatomia 3D com o pessoal da anatomia da USP – Prof. Ciro da Silva, por exemplo), monitorias, premiações, etc.

Aprendendo de Fato

Todas essas coisas recheiam o currículo, mas só são integralmente valorizadas pelos entrevistadores se – de fato – trazem ao candidato a familiaridade com a especialidade; e isso, se consistente, é facilmente captado por eles e – se ausente – mais facilmente ainda…

Preparando-se para Surpresas

Veio a surpresa: durante a entrevista, o então chefe do serviço – Prof. Francisco Otaviano –, no meio de uma frase, mudou o idioma para Inglês e falando Inglês continuamos a conversar. Foi-me então apresentado um texto sobre fístula liquórica (CSF Leakage – nunca esqueci!) o qual me pediram pra ler em voz alta, traduzir e explicar o que entendi. Agora imaginem se eu não soubesse o que era fístula liquórica (obs.: isso não estava nas minhas aulas de Neuro da Faculdade)…

Onde Está o Diferencial?

Até hoje não sei o escore final dos outros, mas passada a segunda fase, fui eu o selecionado para o R1 de Neurocirurgia UFMG 2003 e, então eu percebi que o que separa vencedores de vencidos são milímetros, nunca quilômetros…  

Convido o leitor a Se Diferenciar aprendendo Neuro de fato e Agregando Valor ao Seu Currículo.

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